O Novo Urbanismo consiste em explorar as possibilidades reais do desenvolvimento de uma cidade. Com o crescimento de rodovias e áreas monofuncionais, a cidade passou a interagir com o cidadão de forma diferente. Ao invés de encontrarmos uma dinâmica ativa de comércio, lazer, descanso e outras funções por toda a cidade, encontramos núcleos de usos diferentes, por exemplo um shopping onde encontramos um forte setor comercial. Hoje, na maioria das vezes, para trabalharmos por exemplo, precisamos nos deslocar através de algum veículo auto motor. Precisamos levar em conta que é necessário estudos de aspecto social somados aos estudos de desenvolvimento e crescimento das cidades pois, é uma questão óbvia que as cidades são para serem feitas e projetadas para pessoas, mas nem sempre é isso que vemos. Outro fator é que as cidades devem contemplar o uso de diversas faixas etárias e classificações de renda, não excluindo nenhum tipo de uso. O correto seria pensar de forma a abranger todas as áreas e não só algumas em específico, como por exemplo o favorecimento para o uso de veículos auto motores, excluindo-se a possibilidade do trânsito de pedestres pela cidade.

Foi redigida uma carta do conceito do Novo Urbanismo e dividida em 27 tópicos, resumidos a seguir:
Metrópole, cidade grande e média, cidade pequena
01. A região metropolitana é um órgão com relevada importância no mundo contemporâneo. Devido a este fato, é crucial a cooperação das esferas públicas, governamentais, econômicas e de interesse público, para que haja um bom funcionamento da cidade como um todo.
02. Regiões metropolitanas são lugares finitos, limitadas por dividas geográficas e topográficas.
03. A metrópole tem uma necessária relação com a área rural, necessidade essa ambiental em primeiro aspecto, econômico e cultural.
04. Deve haver incentivo para o desenvolvimento das áreas periféricas da região metropolitana para que estas não caiam em esquecimento levando ao abandono.
05. O crescimento das periferias podem ocorrer de duas formas: pequenas cidades ou vilas com seu próprio perímetro urbano, e nesses casos deve haver uso misto na área para que a mesma não seja utilizada como cidade dormitório.
06. O desenvolvimento das cidades devem respeitar o legado histórico.
07. As cidades grandes e médias devem oferecer uma larga oferta de serviços públicos e privados para oferecer renda a todas as pessoas. Deve-se mesclar moradias sociais no espaço.
08. A estrutura física da cidade deve contar com diversos meios de transportes como bicicletas, transportes coletivos e pedestres, para que haja outras possibilidades de deslocamento fora o veículo automotor privado.
09. Impostos podem ser divididos equitativamente entre os governos para manutenção das cidades.
Bairro, setor e corredor
10. O bairro, o setor urbano e o corredor são áreas essenciais para o desenvolvimento da cidade, são nesses espaços que as pessoas criam uma relação com o espaço.
11. Os bairros devem ser acolhedores e atender os pedestres e ter uso misto. Os setores tem certa prevalência de usos, mas deve ter o mesmo aspecto do bairro e os corredores são as ligações existentes entre um e outro.
12. Muitas atividades do cotidiano devem ser possíveis de serem feitas a pé. Isto para atender aos que não possuem veículo automotor e precisam trabalhar, se divertir, e fazer uso das necessidades básicas. Para isso, há necessidade de uma rede interligada de vias que encoraje o caminhar.
13. Variedade no tipo de moradia e preços para criar a correta dinâmica miscigenada de uma comunidade.
14. Corredores urbanos bem planejados para conectar todas as áreas sem desconsiderar o aspecto já existente no local da inserção do projeto.
15. Densidades adequadas das edificações e distâncias que deem para ser percorridas a pé, para que a área esteja ao alcance de todos.
16. A concentração de atividades públicas, educacionais e comerciais devem estar distribuídas pelos bairros e serem acessíveis a qualquer tipo de trânsito. Por exemplo, uma criança deve ser capaz de chegar a sua escola de bicicleta.
17. A vitalidade econômica e evolução harmoniosa de uma cidade deve ser estudada através de gráficos para possíveis melhoras.
18. Diversidade de parques e áreas verdes distribuídos pelos bairros e essas mesmas áreas para servirem como conexão entre bairros e cidades.
Quadra, rua e edifício
19. A primeira tarefa de toda a arquitetura urbana e do paisagismo é a definição física das ruas e dos espaços públicos como lugares de uso comum.
20. Projetos de edificações isoladas podem ser perfeitamente ligados a seus vizinhos. Esta questão transcende as razões de estilo.
21. A revitalização de espaços urbanos depende de segurança (safety) e de proteção (security).
22. Na metrópole contemporânea o desenvolvimento deve acomodar os automóveis de forma adequada. Isto deve ser feito de modo a respeitar os pedestres e a forma do espaço público.
23. Ruas e praças podem ser seguras, confortáveis, e interessantes para o pedestre. Bem configuradas elas encorajam o passeio, permitem os moradores se conhecerem e com isto protegerem sua comunidade.
24. O projeto de arquitetura e paisagismo deve desenvolver-se considerando o clima, a topografia, a história e a prática de construir.
25. Edifícios institucionais e lugares públicos de reunião requerem sítios significativos para reforçar sua identidade e a cultura da democracia. Eles merecem formas distintas, porque seu papel é diferente dos outros edifícios e lugares que constituem o tecido urbano da cidade.
26. Todos os edifícios devem proporcionar a seu ocupante um claro senso de localização, clima, e tempo. Processos naturais de calefação e ventilação podem ser mais eficientes como economia de recursos que os sistemas mecânicos.
27. A preservação e renovação de edifícios históricos, áreas urbanas significativas (distritos), e de espaços verdes (landscapes) garantem a continuidade e evolução da sociedade urbana.
Esses aspectos mencionados acima, tem como foco o respeito as pessoas e o meio ambiente, procurando proporcionar espaços de qualidade ao usuário.
Por outro lado, temos opiniões divergentes quanto ao assunto do novo urbanismo mencionado acima. Segue críticas em relação ao assunto:
– eles estão provocando mais subdivisões do território (apesar de algumas inovadoras) do que cidades, se referindo ao problema da forma ocupação de dispersa do território;
– favoreceram mais o gerenciamento privado das comunidades, que propostas para novas formas de administração pública local;
– as densidades demográficas previstas são muito baixas para suportarem uso misto, e mais ainda para o uso de transportes públicos;
– estão criando enclaves demográficos relativamente homogêneos, sem muita diversificação socioeconômica;
– sem dúvida, estão produzindo uma nova, atrativa, e desejável forma de unidades planejadas de desenvolvimento (“PUD, Planned Unit Development”), e não um sistema eficiente de utilizar vazios bem localizados (“infill development”);
– as estratégias de mercado propostas são mais ajustadas aos empreendedores privados do que às agencias públicas;
– criaram uma nova onda determinista de que a forma segue a função (estranhamente moderno para aqueles que se dizem críticos do modernismo), levando a crer que o sentido de comunidade possa ser alcançado apenas pelo projeto;
– estão promovendo a perpetuação do mito de ser possível criar e manter núcleos urbanos com o caráter de localidades campestres;
– produzidos cuidadosamente, os projetos dos novos urbanistas são divulgados como evocação dos tempos dourados das pequenas cidades e da inocência de um século atrás, que em verdade foi o tempo em que muitos americanos se deslocaram do campo para as cidades maiores, e não para localidades de subúrbio.
Este é resumo dos pontos críticos colocados por Krieger, espelho da posição do GSD, Departamento de Planejamento e Projetos Urbanos de Harvard. Conclui que o bom urbanismo não é necessariamente aquele dos novos urbanistas. Que o sucesso obtido pelo Novo Urbanismo, como repercussão na sociedade, tem sido maior que suas realizações, se analisadas do ponto de vista técnico.
Texto base: Vitruvius
Nota pessoal:
No meu ponto de vista pessoal, acredito que há muitas ideias significativas que constam na carta do novo urbanismo, como por exemplo a dinâmica proposta para os bairros e a inserção de áreas verdes, o que permite maior qualidade e satisfação na moradia local. Por outro lado, também é importante o ponto de vista contrário à carta, pois como observamos com conhecimentos empíricos, não podemos engessar um processo, ainda mais quando se trata de grandes espaços com dinâmicas diferentes. Precisamos levar em consideração todos os aspectos positivos e negativos do local, conhecê-lo profundamente, estudá-lo e então, propor iniciativas que venham somar para o bom desenvolvimento da cidade, sejam iniciativas a favor ou contra ideais proposto por estudiosos, políticos ou civis. O conjunto de conhecimentos nos leva a possibilidade de alternativas viáveis e de crescimento para os espaços projetados ou re-inventados, conforme necessidade do local.
Leitura recomendada: Vida e Morte das Grandes cidades – Jane Jacobs